quinta-feira, 22 de julho de 2010

Tudo o que é grande começa devagarzinho. Pequenino, pequenino. Repetido. Timidamente você escuta uma voz lá longe... percebe algo. Esquece que percebeu. A voz teima, teima... vai crescendo teimosa: até que você começa a escutá-la.

Primeiro, como um sussurro.
E o sussurro, já sabem, acelera o coração.
Dá medo. Um medo tipo esconde-esconde: ora excitante, ora verdadeiramente assustador.

E você distrai a mente, pensa em outra coisa, se ocupa. Daqui a pouco, finge que esqueceu. Mas finge tão descaradamente que a máscara um dia cai e a voz – que nunca desistiu de sussurrar – é escutada.

E aí é como quando a gente derruba o prato de comida: um barulho horrível e uma bagunça grande acontece dentro da gente.

O passo seguinte é perceber essa bagunça e lidar com ela.
É ter a consciência que se você deixar lá o prato quebrado e a comida no chão as coisas só irão piorar...

Daí você vai trabalhando isso na sua cabeça. Da sua forma e velocidade. E chega um dia – se você for amigo verdadeiro de si mesmo – que você está pronto pra fazer essa grande faxina. Daí você respira fundo e começa a enfrentar essa coisa-enorme-e-teimosa que é “a voz lá de dentro”, que é o seu sentir.

Para mim foi assim: um processo.
Foi não: está sendo.

Ainda é tudo muito novo e ao mesmo tempo é tudo muito antigo.
Antigo demais até.

Gosto de pensar que nós, mulheres, somos seres encantados, que passam por diferentes estágios de encantamento ao longo da vida:
 
algo como:
temos a fase de MINHOCA:
Rastejamos de vagarzinho, olhando tudo muuuuito lentamente, nos alimentando e esperando pacientemente por uma outra vida, uma outra existência, uma versão de nós mesmas que está guardada: uma versão mágica em que olhemos para o espelho e nos reconheçamos por fora, como nos vemos por dentro. Olhamos para nosso corpo de minhoca e não gostamos: há algo errado, há algo que não bate, que não é como deveria. Esse incômodo vai crescendo até que por fim estamos prontos para entrar na fase seguinte.
 
temos a fase de CASULO:

Já percebemos que não temos vocação para minhoca. Já nos tocamos que somos diferentes. Que é hora de contar a verdade pelo menos para nós mesmas: há outra versão de nós que é muito mais bonita, porque é a nossa versão verdadeira. E aí sabe o que fazemos? Preparamos um casulo aonde possamos, pouco a pouco assumir nossa beleza.
A fase do casulo é mais longa, porque é uma fase-carregador: temos que fortificar a coluna, temos que construir uma auto-base, uma auto-edificação-de-si-mesma. Temos que dar em si mesma um abraço loooongo, um abraço constante, um abraço eterno. Temos que perceber que somos fortes, que agüentamos o tranco, que somos especiais porque damos conta de sermos assim.
 
a fase do casulo é a fase de construção. Ela pode ser super rápida para alguns, e muuuuito longa para outros. o mais importante é respeitar essa fase. é ela que vai lhe dar forças para a fase seguinte.
 
temos a fase da BORBOLETA:

A fase da borboleta acontece quando estamos prontos para deixar o casulo. Isso não significa necessariamente assumir para todos: significa assumir principalmente para você mesma. A fase borboleta é mais bela: você olha no espelho e se reconhece: você sabe da sua beleza e do seu colorido.
 
como todo ser que voa, aprendemos, que nem-tudo-são-flores. Há muitas redes aí de colecionadores de borboletas: pessoas que não querem que você voe, vendavais que lhe arrastam de sua direção, chuvas torrenciais que ensopam suas asas, águias que tentam lhe capturar e lhe ferir.

É hora de ser forte. De ter mais do que nunca, certeza da borboleta linda que você é. Do encantado do seu colorido. Da sua capacidade de voar enfeitando o ar com rodopios.

É hora de saber por onde voar: que vôos lhe trarão sorrisos, que vôos lhe trarão dores. É hora de pousar só em árvores conhecidas. É hora de perceber que você voa porque é seu destino voar: mesmo que outros seres não entendam nada sobre vôo.

É hora de ter orgulho de ter conseguido ser quem você sempre esteve predestinado a ser: uma linda borboleta colorida.

E sabe o quê?
- O que é um campo de flores sem borboletas voando sobre elas?

Nós, queridas, nós somos a poesia que voa com o vento.
E essa certeza não podemos esquecer jamais.